sexta-feira, 1 de abril de 2011

O PROCESSO DE CRIAÇÃO NA OBRA DE NAZA

SOCIEDADE PIAUIENSE DE ENSINO SUPERIOR

INSTITUTO CAMILLO FILHO

COORDENADORIA DO CURSO DE BACHARELADO EM ARTES VISUAIS – HABILITAÇÃO EM PINTURA

O PROCESSO DE CRIAÇÃO NA OBRA DE NAZA

LUCÉLIA MARIA DO NASCIMENTO

Teresina

2009

LUCÉLIA MARIA DO NASCIMENTO

O PROCESSO DE CRIAÇÃO NA OBRA DE NAZA

Monografia apresentada ao Curso de Belas Artes do Instituto Camillo Filho-ICF, como exigência parcial à obtenção do grau de Bacharel em Artes Visuais, habilitação em Pintura, sob a orientação da Profª. Maria Isalina de Moura Cortez Macêdo.

Teresina

2009

LUCÉLIA MARIA DO NASCIMENTO

O PROCESSO DE CRIAÇÃO NA OBRA DE NAZA

Monografia defendida no dia ____/____ de 2007 e aprovada nessa mesma data por Banca Examinadora constituída pelo Curso de Bacharelado em Artes Visuais – Habilitação em Pintura do Instituto Camillo Filho.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________

Profª. Maria Isalina de Moura Cortez Macêdo

Presidente

A Antônio marcos, esposo amado e verdadeiro presente de Deus, colocado em minha vida.

AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me mostrado meu verdadeiro dom.

A artista Naza, por existir, viver e praticar de forma tão simples e humilde sua arte e ao mesmo tempo tão grandiosa.

A minha excelsa mãe, pelas preces, e ao meu querido pai por ser admirador de minha arte.

A Lorena Araújo, amiga, que estendeu-me a mão, na hora em que eu mais necessitava.

À Profª. orientadora Maria Isalina de Moura Cortez Macêdo, cujo atendimento, disponibilidade e apoio bibliográfico eu não poderia prescindir.

A senhora Maria das Dores,que de coração generoso e bom, acolheu-me em seu lar, sem reservas.

A todos, meu muito obrigada.

“Tenho uma estranha lucidez quando

a natureza é excepcionalmente bela.

Não sou mais eu, perco a consciência,

e as imagens vêm a mim como num sonho.”

“É tão fácil pintar um bom quadro

Como encontrar um diamante

Ou uma pérola. Significa obstáculos

E você arrisca sua vida por isso”.

“Não posso evitar o fato de que meus

Quadros sejam vendáveis. Mas

Virá o tempo em que as pessoas verão que

Eles valem mais que o preço da tinta”.

Lucélia

RESUMO

Existem várias maneiras de um artista expressar sua necessidade de expor, transpor para o mundo material o seu potencial criador. Maria Nazareth Maia Rufino, conhecida internacionalmente como Naza, conseguiu por meio da pintura realizar aquilo que realmente desde pequena ansiava por concretizar, materializar um pouco o que vinha amadurecendo em seu mais profundo ser, “suas emoções”. A presente monografia tem por objetivo analisar o processo de criação em que sua obra é desenvolvida. Com essa finalidade, realizou-se uma pesquisa qualitativa, através de pesquisa exploratória, que inclui inicialmente uma pesquisa bibliográfica para a coleta de informações sobre o tema delimitado, consultando livros, internet, e materiais publicados em jornais piauienses e internacionais, seguida de uma pesquisa de campo onde foi realizada entrevista e gravação de vídeo com a própria artista. O texto está estruturado, além da Introdução, em seis Capítulos que abordam sua trajetória artística e o seu processo de criação. Por fim, o resultado da pesquisa, seguidas das Referências, Apêndice e Anexos.

Palavras-chaves: Pintura. Emoções. Vitoriosa.

SUMÁRIO

1

INTRODUÇÃO..................................................................................................

2

NAZARETH RUFINO,TRAJETÓRIA DE VIDA.........................................

3

PROCESSO DE CRIAÇÃO.............................................................................

3.1

A TÉCNICA.......................................................................................................

4

A ARTE DE NAZA E O DIALÓGO COM DIFERENTES TENDÊNCIAS ESTILÍSTICAS

5

ANÁLISE FORMAL E ICONOGRÁFICA....................................................

6

CONCLUSÃO...................................................................................................

REFERÊNCIAS................................................................................................

APÊNDICES.......................................................................................................

ANEXOS.............................................................................................................



1 INTRODUÇÃO

O tema “ O processo de Criação na obra de Naza” não foi mera coincidência. Por ser uma pesquisa que pretende esclarecer sobre os canais que levam a criações e como elas acontecem nos subterfúgios da consciência explicitada pela artista. Nazareth é levada apenas pela emoção e encara suas telas, algumas vezes, sem nenhum tema preconcebido, apenas permitindo que as cores e formas fluam de um impulso intuitivo e espontâneo do inconsciente. Com base em Farina (1990, p.27) o artista é assim, a mão que, com a ajuda do toque exato, obtém da alma a vibração justa.

Nascida em Santa Cruz do Piauí, Maria Nazareth Maia Rufino McFarren é uma artista autodidata. Iniciou sua carreira de pintora em 1976 e nunca mais parou. Pesquisou exaustivamente em busca de um estilo seu, o qual está desenvolvido e apresentado nesta monografia.

Este trabalho tem como objetivo central conhecer como se dá o processo criativo na obra da referente artista. A realização da pesquisa nasceu da necessidade de maiores esclarecimentos sobre o trabalho desta grande pintora, desta forma, contribuindo para diminuir a carência bibliográfica, como também, proporcionar um justo entendimento de sua técnica pictórica.

Entre outros objetivos, procurou-se deixar registrado não só a vida, mas uma análise esclarecedora de sua obra, complementando a formação, a sensibilização do observador para a devida capacidade de reconhecimento da obra desta pintora, sem deixar de contextualizar sua obra com a história da arte.

Esta obra é dividida em seis partes, que resumem o conhecimento sobre o tema pesquisado, ao tempo em que seguiu a norma exigida de Introdução, Desenvolvimento e Conclusão, a saber os seguintes capítulos: Introdução; Nazareth Rufino; Processo de criação; A técnica; A arte de Naza e o dialógo com diferentes tendências estilísticas; Análise formal e Iconográfica; Conclusão. Posteriormente, as referências que constituíram o alicerce teórico fundamental, seguindo-se o apêndice que mostra o modelo da entrevista feita na pesquisa de campo, realizada diretamente com a própria artista. Em seguida os Anexos, contendo certificados adquiridos por Nazareth Rufino durante sua trajetória artística.

Da introdução à conclusão, foram tratados assuntos particulares sobre a vida da Artista, procurou-se contextualizar seu estilo, através da história da arte, enfatizando que existem elementos estilísticos em sua obra que dialogam com certos artistas e estilos em diferentes épocas. Pretendendo, ainda, dissecar a metodologia de trabalho desenvolvida e utilizada por Naza quando cria, e quando se põe a materializar sua obra. Assim como o estudo de sua técnica expressiva, obtida a partir de uma pesquisa de campo, por meio do método biográfico, com a execução de entrevista com a própria pintora e a gravação de vídeo em que a artista pinta um quadro, mostrando seu ato na criação de uma obra. Contendo, ainda, explicações sobre análise formal, e deste modo a observação dos elementos formais ao demonstrar os pequenos detalhes compositivos da obra, como linhas, contrastes, cores e volumes; não esquecendo de identificar na composição a mensagem da obra, através de análise iconográfica.

Subscreve-se que Maria Nazareth Maia Rufino McFarren, mesmo consagrada como artista plástica no meio artístico piauiense, nacional e internacional, não usufrui, até o momento, de estudos científicos acerca de sua obra.

À metodologia utilizada nesta monografia, constitui-se de uma pesquisa qualitativa, pois não tem a intensão de medir unidades, propondo a análise de valores, história da vida, obras, além de outros aspectos. Sendo uma pesquisa descritiva, cujos objetivos foram demonstrar as características pictóricas e o ato criador da artista Naza. Já o desenvolvimento deste tema, concretizou-se em duas etapas. Na primeira, uma pesquisa bibliográfica, com o objetivo de encontrar os principais conceitos sobre o tema escolhido. Para este estudo recorreu-se a livros e jornais. Na segunda etapa, uma pesquisa de campo, fase em que foi coletado informações sobre a artista e sua obra. Por meio do método biográfico, executando entrevista e gravação de vídeo em que a própria artista, demonstra sua criatividade e habilidade, de seu fazer artístico ao executar a pintura de uma tela. O qual sem esses dados de alta relevância não teria sido possível a materialização deste trabalho científico.

Por fim, foi realizada a análise de todos os dados coletados para compor e finalizar o estudo sobre essa artista piauiense Maria Nazareth Maia Rufino, mais especificamente, Naza.

2 NAZA, TRAJETÓRIA DE VIDA

No dia 19 de abril de 1955, nasceu na cidade de Santa Cruz no Estado do Piauí-Brasil, uma menina que iria se destacar no mundo das artes, principalmente no exterior, essa menina se chamaria Maria Nazareth Maia Rufino, sétima e última filha do senhor José Cortez Rufino e da senhora Guiomar Maia Rufino, uma das famílias tradicionais do lugar.

Desde pequena já se notava sua habilidade artística. Aos onze anos de idade pintou Jaqueline Kennedy e Nelson Rockefeller, tendo como modelo uma fotografia, demonstrando a todos sua habilidade para o desenho.

Para alcançar seus objetivos, morou em várias cidades conforme fosse a meta a ser vencida. Aos doze anos, por não haver ginásio (da quinta à oitava série do primeiro grau) em Santa Cruz, foi morar em Picos, na casa de sua irmã, Maria das Dores.

Em 1972, cursou o segundo grau em Fortaleza, no estado do Ceará, optando por um curso de Técnico em Administração de Empresas. Porém concluiu o curso na Escola técnica Federal, em Teresina.

Quanto à formação superior, cursou apenas um ano de Administração de Empresas e Economia na Universidade Federal do Piauí, naquela época, trabalhava e estudava; primeiro, como garota propaganda na TV Rádio Clube de Teresina, depois, como escriturária na Secretaria da Fazenda, e por fim, como recepcionista da Embratel (Empresa Brasileira de Telecomunicações). Apesar das dificuldades durante esse período difícil em sua vida, Naza nunca deixou de desenhar.

Em 1976 Nazareth mudou-se para Brasília, com o intuito de trabalhar na Caixa Econômica Federal. Foi a partir dessa época que decidiu pintar profissionalmente, adotando o nome de Naza, que seria uma abreviatura de seu nome de batismo.

Entre 1977 foi morar em Recife, com o firme pensamento de viver somente de sua arte, porém não deu certo. Voltou, então, para o trabalho um trabalho fixo, desta vez no Bandepe – Banco do Estado de Pernambuco. Neste período, teve uma relação conflituosa que durou três anos, resultando no nascimento de sua primeira filha Guiomar.

No ano de 1982 passou no concurso do Banco do Brasil, que na época era um dos melhores empregos do país, tendo que porém, mudar-se novamente para trabalhar, em Picos no Piauí. Foi lá que, apaixonou-se por Stuart Mcfarren, oficial de intercâmbio do exército americano, casando um ano depois, em 1984.

Em 1985 mudou-se com sua filha para a América do Norte, passando apenas uma temporada de três meses em Saint Thomas, nas Ilhas Virgens, depois em Ohio, Estado que ficou sendo sua residência oficial durante sete anos. Mudou-se em seguida para o Panamá, o que considerava uma verdadeira transição suave entre Brasil e os Estados Unidos, aproveitando sua estadia nesse país para aprimorar a língua inglesa e espanhola, porém sem esquecer de fazer o que mais gostava, pintar.

Em seis meses apenas já era sucesso, tinha clientes vips, e como retratista teve a honra de freqüentar a casa do General e Governante Manuel Antônio Noriega[1] entre 1986 e 1987.

Seu segundo filho, ao qual deu o nome de Daniel, nasceu em 1987, fazendo-a parar por um tempo com a pintura, pois estava amamentando. Em 1988 seu esposo foi transferido para Arlington no Estado da Virgínia, área metropolitana de Washington, capital dos Estados Unidos da América.

Em Washington, ela percebeu que a carreira artística precisava ser encarada mais profissionalmente. Trabalhou incessantemente em sua carreira no mercado americano, tornou-se referência e uma das principais artistas de Washington, devido a entrevistas dadas à revista “Museum and Arts Magazine”, como também a uma reportagem grande a seu respeito no Jornal Folha de São Paulo.

Em 1990, porém teve que migrar novamente, desta vez para Barbados, onde ficou dolorosos dois meses, cuidando do término de seu casamento. Com o divórcio, passou a viver às custas do seu trabalho. Mudou-se novamente, desta vez para Fayetteville, Carolina do Norte, uma cidade em volta da base militar de Fort Bragg, a maior dos Estados Unidos, onde trabalhou como professora de português na base militar. Depois do Expediente exaustivo de oito horas diárias, ainda trabalhava pintando e cuidando dos filhos. Nesse ínterim, fez exposições em Washington, participou de competições e até pintou um mural em Fayetteville, na Carolina do Norte, sempre planejando sua próxima mudança, desta vez para a Flórida.

Em 1993, seu desejo foi realizado, quando mudou-se com o apoio do Embaixador Diego Asencio, um americano de origem espanhola, para a tão sonhada Flórida, fixando residência em Boca Raton, onde mora até hoje. Dedicou-se exclusivamente à sua arte, lançando e administrando seu atelier no coração do condado de Palm Beach. Com muita dedicação, conseguiu impor-se como uma das artistas mais conhecidas e respeitada nos círculos culturais, sociais e de negócios do sul da Flórida, tendo uma clientela ávida por seus quadros espalhados por várias partes do mundo, no Piauí, são encontrados no Museu do Estado do Piauí, e em várias coleções particulares: Elvira Raulino, Senador Heráclito fortes, Alda Veloso, Elza Noronha, Taniti Santos, Dr. Airton Santos, entre outros.

Envolveu-se em causas sociais e ecológicas, o que lhe rendeu o título de “Embaixatriz Brasileira em Palm Beach”. Já em Paris no ano de 1996 ganha dois prêmios: O Croix d’argent ( anexo B) da Academia de Arte, Ciência e Letras e o Soroptimists International (anexo C) em 1997.

Além de ser uma excelente artista, é também uma boa publicitária, investiu em produtos que levam o seu nome utilizando muitas vezes imagens dos quadros que cria, manipulando-as e recriando-as como se fossem novos quadros, os quais aplica em peças de roupas femininas ou masculinas ( Fig. 01), bolsas, almofadas ( Fig.02), moda praia e acessórios tais como: colares, brincos, pulseiras ( Fig. 03).

Mesmo sem ter conhecimento de marketing, sempre dirigiu intuitivamente sua carreira raramente fazendo uso de intermediários como por exemplo, o marchand[2]. Naza afirma trabalhar atualmente como designer de moda, que segundo o artista plástico piauiense Hugo Leonardo, visitante assíduo de seu site, “a artista está usando vestuário como mídia de arte, está tentando usar as pessoas, como exposição de arte ambulante”, neste ponto a artista concorda, mas diz que,“o designer[3] está na estampa e não na roupa em si”(Naza, 2008).

Figura 02 – Feshion Tshirt – Palm Beach – Event Figura 03 – Handbag_artwork_Photo - $ 28,50

Fonte: http://www.naza.com, Acesso em 07 fev.2009

Figura 04 - Unique bracelet With miniatura art - $ 25,00

Fonte: http://www.naza.com, Acesso em 07 fev.2009

Quanto as suas viagens ao país de origem o Brasil, somente a trabalho quando contratada para retratar pessoas, é nestas ocasiões que aproveita e promove exposição de suas obras.

Seus trabalho podem ser adquiridos via internet pelo Websit WWW.naza.com ou por email naza@naza.com. No Piauí há duas lojas que estão autorizadas a vender seus quadros, são elas: Lilia Designer e Galeria Oficina.

3 PROCESSO DE CRIAÇÃO

Naza nasceu com certa predisposição interior de saber captar a essência do ser, exibindo em suas telas o que há de mais interessante nos seres retratados, isto só é possível porque o seu processo de criação identifica-se com o próprio viver, é uma questão existencial, a emoção que permeiam seus pensamentos, que são estruturados no seu intelecto, e com sua sensibilidade artística exterioriza-os. “Quando eu pinto, dou vazão às minhas emoções, de forma livre, intensa e verdadeira”, afirma. Dona de uma sensibilidade extraordinária, quando cria, sua entrega é total, fica imersa numa espécie de transe psíquico.

[...] A elaboração de formas expressivas exige uma concentração tão grande que a pessoa parece estar num estado de transe, mergulhando em seu inconsciente. No entanto ela está acordada, lúcida e inteiramente consciente. Vale lembrar aqui que os processos criativos são intuitivos (intuitivos, não instintivos) e que abrangem todos os dados da cognição e do afeto (dados sedimentados em nosso próprio modo de ser, não necessariamente ao nível do intelecto). Na verdade, o consciente e o inconsciente se completam na intuição, como facetas do mesmo conhecimento de ser, e se qualificam mutuamente em cada decisão que tomamos (OSTROWER, 1990, p. 257).

O processo de criação pelo qual Naza consegue materializar sua arte, é realizado no início de certa forma meio angustiante como ela mesma diz , “as vezes passo meses sem pintar, não sei se por causa da depressão ou um quase medo, pois ainda hoje eu tenho um pavor de uma tela em branco, medo de falhar, medo de fracassar”, sua insegurança é a respeito de não conseguir realizar um trabalho com o mesmo nível de expressão e conteúdo artístico que os anteriores. OSTROWER(1990,p. 257)Comenta que os processos de criação começam em um estado de profunda inquietação e tenção, uma vez que, os anseios e pressentimentos encontram-se reunidos numa grande carga afetiva em regiões de pura sensibilidade, porém sem deixar de ser uma questão da inteligência. Mesmo assim o que acontece, é que todo processo criativo, está fora do perímetro de definições intelectuais ou de qualquer tipo de raciocínio lógico.

Seu ato de “crear[4]” tem horário, ela tem preferência pelo horário da noite, pinta a noite inteira e deixa para dormir pela manhã, este ato, oscila entre o instinto e a razão, entre o impulso que subverte todas as regras e o intelecto que as organiza. Como a própria Naza diz “trabalho por instinto e intuição, deixando que o subconsciente aflore no momento em que estou pintando”, seu subconsciente, trabalha praticamente sozinho, afirma que só trabalha com o lado direito do cérebro quando pensa na composição, somente no processo de acabamento é que ela deixa o intelecto e a razão intervir, com o intuito de organizar as sugestões formais, produzidos pelo instinto e a intuição.

Sempre que está pintando, ela tem necessidade de escutar música, em volume alto, o que a ajuda a dar vazão aos seus sentimentos. No dia da entrevista[5], em que pintou um quadro ao vivo em apenas duas horas, estava tocando algumas musicas de cantores brasileiros, e notava-se que o ritmo de suas pinceladas acompanhavam o ritmo da música, neste aspecto observa-se novamente o quanto o seu estado de espírito influencia o que ela exterioriza em seu trabalho.

Quanto ao lugar para trabalhar ela diz que, “qualquer lugar onde estou eu pinto, basta ter o material para pintar”.

Ao iniciar uma obra, não tem a mínima idéia da forma ou conteúdo pictórico em que resultará seu trabalho. Não obedece a nenhum procedimento básico, ela trabalha com procedimentos mutáveis, se não for um retrato ou um assunto específico, começa com a tela em branco, espalhando a tinta aleatoriamente pela superfície, e em vários momentos, pára um pouco para observar a tela, na expectativa que o quadro lhe dê algum sinal, orientando-lhe quanto ao próximo passo, “ele começa a falar”, e com o diálogo entre obra e artista, começa a perceber e a fazer relações entre as formas, a visualizar elementos interagindo entre si. Este momento “é o melhor e precioso”, diz a artista, é a hora em que os desenhos vão surgindo e ela já pode direcionar, concretizar a forma sobre o fundo branco da tela.

Quando é indagada sobre o tema preferido de trabalhar, a pintora diz “prefiro pintar seres vivos, seres que se mexam, que vibrem, como bichos ( Fig.05) e pessoas ( Fig. 06)”, ela gosta de pintar a vida; “meus quadros não ficam na parede para enfeitar, eles saem da parede e puxam as pessoas para dentro, tocam-nas, gritam, cantam ou acariciam, dependendo dos sentimentos que em mim afloraram quando eu estava pintando”.

De acordo com a artista, reproduzir em seus trabalhos, animais selvagens ( Fig. 06), é sua maneira de ajudar a preservar o meio ambiente, aumentando assim a conscientização das pessoas sobre a situação de espécies em perigo de extinção.

Quando cria ela se preocupa ao máximo com os detalhes. A partir do momento que inicia um retrato “sob encomenda”, tenta ser o mais fiel possível principalmente no que se refere às feições do rosto ( Fig.05), quanto ao espaço que se refere ao fundo da composição ela abstrai conforme sua criatividade artística.

Figura 05 – “ Ivana’s”- Oil Portrait. Figura 06 - “Naza-Wild Cat Painting

Fonte:WWW. naza.com, 1995-2006. Fonte: naza.com, 1995-2006.

Atualmente, com o avanço da tecnologia, Naza também inovou utilizando as ferramentas atuais que oferece o mundo tecnológico. Aliando ao seu potencial criador imagens computadorizadas fotográficas para criar as “Generations[6]”. Nazareth escaneia a imagem de uma obra sua, colocando-a no computador e começa a desmembrar áreas da composição elaborada reconstruindo-a em uma nova forma compositiva, criando assim um novo quadro. Segundo Moreira (1996, p. 20), “quando uma obra se inspira na outra, encontra nesta outra seu leit-motiv[7], mas jamais a traduz”, não deixa de ser uma nova criação artística, podendo ser comentada mas não traduzida.

3.1 TÉCNICA

Naza, como pintora, não teve formação artística acadêmica, sendo autodidata. Aprendeu a pintar baseando-se na observação e na prática incansável do fazer artístico e de suas pesquisas pictóricas, levadas por suas inquietações e intuições.

A artista, diz desenhar desde criança sem no entanto, sempre ter achado que todo mundo precisa adquirir conhecimentos mais aprofundado sobre as técnicas, porque na sua concepção, “mais importante do que a técnica, é o talento de por as emoções no quadro, mas se pode ter as duas coisas a arte está completa”. Saber quais os materiais certos a utilizar é imprescindível; mas quando buscou conhecimentos em uma escola de artes, em Brasília-DF, esbarrou com um problema muito natural para quem já nasceu com certa predisposição artística, seus anseios e respostas não eram correspondidos. Conforme suas necessidades, os professores ensinavam como “eles” pintavam e isto ela não queria. Seu desejo era descobrir sua própria linguagem artística, sua técnica particular e somente dela, a qual a identificasse. Naza iniciou vendendo quadros a amigos. Testava as tintas misturando cores e observando texturas. A maioria de seus trabalhos é óleo sobre tela, mas, nem sempre foi assim. No início da sua infância e adolescência, ela utilizava somente carvão para se expressar e colorir as calçadas de Santa Cruz do Piauí.

Materiais de arte naquele tempo eram difíceis de adquirir. A artista declara com saudosismo que “viu pela primeira vez tintas e pincéis quando sua irmã, Maria das Dores, os touxe, sendo esta quem a ensinou como usá-los de forma apropriada”.

Hoje, só usa em seus trabalhos as tintas da marca Winsor & Newton, pelo pigmento e pela transparência que a tinta proporciona. Os pincéis que usa são de pêlos macios e longos, para ajudar a obter o resultado esperado em suas telas, que é uma pintura de aspecto macio e suave, de efeito aveludado; quando os pêlos dos pincéis vão diminuindo pelo desgaste do uso, já não servem mais e são descartados.

Quanto à utilização das cores, a artista afirma seguramente ser o elemento fundamental em seu trabalho pois como ela mesma diz, “meu próprio desenho é feito com a cor e não com linhas, é com cores que eu mostro as emoções; meu desenho é a própria cor”. Não tem preferência por cor específica, devido a sua utilização ser guiada conforme já havia mencionado, pelo seu estado emocional presente no momento da criação. Entretanto, existem duas que não usa de forma alguma: a cor branca e a cor preta, e existe uma que tende a estar sempre presente em diferentes proporções, o vermelho. Tanto esta como as outras cores quando aplicada na tela, é realizada de forma intuitiva, mas sem deixar de prestar atenção no direcionamento para manter a relação entre elas, por exemplo, quando usa a cor vermelha num determinado local sempre observa atentamente outro ponto em que vai repeti-la para assim criar uma relação balanceada de dois ou de três pontos da mesma cor, já quando utiliza as cores verde e azul não se preocupa, diz “elas se completam”.

Sua maneira de proceder no decorrer do trabalho, ocorre da seguinte forma: Com um pincel largo e de pelos longos, inicia a pintura espalhando as cores de forma aleatória na tela, na qual é previamente aplicada uma textura bem fina, resultado obtido da colagem feita com papel anti-ácido e várias camadas de gel acrílico, deixando a tela com a superfície levemente rugosa( Fig. 07), onde depois de seca é lixada com uma lixa também fina e passado camadas de gesso e, por último, tinta branca especial para finalizar. A primeira camada pictórica, é feita juntamente com uma mistura bem dosada em proporções que só ela sabe de uma mistura de óleo de linhaça[8] com Thinner[9]. Nesta etapa da pintura, não escolhe previamente qual cor será aplicada na tela, ela deixa o subconsciente dizer por meio do que ela está sentindo. Se está agitada, fica com vontade de usar cores fortes. Este processo é realizado sempre observando se o nível de tinta e do óleo, estão igualmente distribuídos em toda a tela para não correr o risco de haver áreas com mais ou menos brilho. Durante toda a realização do trabalho retira com muito cuidado e movimentos leves, a tinta em alguns locais, deixando o fundo branco da tela aparecer, ressaltando os relevos da textura, sempre trabalhando neste processo de subtração, usando uma ponta de silicone ou um pano bem macio no dedo indicador da mão direita, este processo de subtração é utilizado alternadamente com o de adição, onde é distribuída com cautela mais tinta ao trabalho, resultando o efeito de luz, sombra, volume, profundidade de proporções e perspectivas tridimensionais( Fig. 07).

Figura 07 – Tela com leve textura Figura 08 – Tela abstrata finalizada.

Fonte: Lucélia Maria. 2008 Fonte: Lucélia Maria. 2008.

Se for retrato ( Fig. 04), pinta primeiro o rosto, depois o fundo, “coloco as cores determinadas, para a certa etnia[10]”, depois vem a parte que considera a mais importante do seu trabalho, o fundo da composição. As abstrações que aparecem no fundo da tela, são realizadas aproximadamente em menos de duas horas, porque a tinta tem que estar obrigatoriamente bem fresca. Ali é que ela usa sua liberdade artística para criar. Às vezes utiliza recursos de um projetor, para lhe auxiliar no desenho do mapa das proporções da figura, este processo lhe deixa mais segura, mas este recurso é apenas utilizado como ponta pé inicial, porque logo depois, é somente o olho dela.

Observar os quadros de Naza, é navegar num passeio insólito por superfícies texturadas, nem sempre de topografia tranqüila, nas quais a turbulência e a calmaria se alternam, numa jornada de formas, que por vezes, remontam mundos aquáticos, entranhas orgânicas, incendiadas pela cor que dança ao ritmo frenético do sopro vital (COÊLHO, 1997, P23).

5 ANÁLISE FORMAL E ICONOGRÁFICA

A obra escolhida para ser analisada é “wolf” ( Fig. 09) um animal, cuja temática é a que a pintora mais gosta de representar. A idéia inicial desta obra, foi concebida no momento em que avistou um destes lobos, achou interessante, então o registrou em vários ângulos, por meio de máquina fotográfica, a partir de informações obtidas começou a desenvolver o quadro, com este conteúdo temático.

Para efeito de análise, a obra “Wolf”, óleo sobre tela, de formato retangular, medindo 76cm x 61cm, teve seu plano pictórico segmentado em duas partes. No primeiro plano visualiza-se a imagem do lobo, que por meio do efeito de luz e sombra criou um volume, projetando a forma para a frente. Sendo que aos volumes verticais contrapõem-se os horizontais. Já no espaço pictórico do segundo plano concretiza-se por meio da imagem do céu ou escuridão da noite. Os elementos formais da composição: linhas, superfície, luz, e cor foram distribuídos de maneira equilibrada e harmoniosa no espaço compositivo. Fayga Ostrower explica que uma análise seria como uma aula de anatomia, em que se dissecam os músculos de um corpo para descobrir como funcionavam no organismo vivo. Esse conhecimento teórico pode ser definido em palavras e apreendido intelectualmente. A referida autora afirma:

Nas obras de arte, os conteúdos expressivos resultam de constantes inter-relações entre partes e totalidade. Cada componente ao participar de uma composição, dela receberá um determinado significado. Este significado não existia independentemente, como um dado fixo ou preestabelecido anterior à composição assim como não existia a composição sem os componentes. Tudo surge e se define em interações recíprocas. A composição de uma imagem vai sendo formada a medida em que entrarem os elementos visuais (digamos: certas linhas, cores, superfícies) e com eles se articularem certos relacionamentos formais (digamos: contrastes, semelhanças, tensões espaciais, ritmos) – e ao mesmo tempo, nesta mesma composição, o significado de cada um dos elementos e das posições que ocuparem, vai ser redefinido pelo conjunto dos outros elementos presentes. Quer dizer: o significado de cada detalhe dependerá das funções específicas que passe a desempenhar na estrutura da totalidade que ajudou a formar.(OSTROWER,1990,P.33)

Figura 09- “WOLF” ( 2002)

Fonte: WWW.naza.com. Acesso em 07/fev/ 2009

O espaço da obra é orientado por direções verticais e horizontais, Sendo que o motivo central da composição encontra-se em ação, enfatizado pela verticalidade da figura do lobo. Ostrower afirma que “O conteúdo expressivo de um quadro não é articulado através da descrição de determinados episódios e sim exclusivamente, através dos significados contidos nos relacionamentos espaciais da imagem”.(1990,p. ................).

Sendo o elemento expressivo linha, portador de um movimento direcional, vemos na obra de Naza um leque expressivo e uma extraordinária vitalidade das linhas de tensões, desdobradas, descontínuas, em ritmos livres e vibrantes, em movimentos agitados, excitados, exaltados de linhas finas e nervosas indo e vindo incansavelmente, acentuando o contraste entre o modo estático e o dinâmico, sendo que as linhas horizontais e verticais são estáticas e as diagonais e curvas são dinâmicas.

Nas artes visuais, a linha tem, por sua própria natureza, uma enorme energia. Nunca é estática; é o elemento visual inquieto e inquiridor do esboço. Onde quer que seja utilizada, é o instrumento fundamental da pré-visualização, o meio de apresentar, em forma palpável, aquilo que ainda não existe, a não ser na imaginação. Dessa maneira, contribui enormemente para o processo visual. (DONDIS, 1991,p.56)

Na obra “Wolf” existe formas quadradas, circulares, triangulares, cada uma com suas características específicas e significados.

Todas as formas básicas expressam três direções visuais básicas e significativas: o quadrado, a horizontal e a vertical; o triângulo, a diagonal; o circulo, a curva. Cada uma das direções visuais tem um forte significado associativo e é um valioso instrumento para a criação de mensagens visuais. (DONDIS, 1991,p.59)

A presença do elemento superfície se faz sentir na geometrização do espaço, constituindo-se de faixas horizontais, verticais, diagonais e curvas. O tempo configurado é o da simultaneidade, onde tudo acontece ao mesmo tempo em conjunto com superfícies fechadas, abertas e um conjunto de planos sobrepostos que nos dá a noção de profundidade, tornando a relação espacial duplamente dinâmica.

Percebe-se o elemento luz através dos contrastes de claro/escuro, que articula uma vibração no espaço. Enquanto o claro avança no espaço, o escuro recua, causando um efeito de avanço/recuo simultâneo.

As cores utilizadas no quadro foram desdobradas em primárias, secundárias, quentes, frias e complementares. A paleta da artista é rica e variada de tons verdes, amarelos e marrons com predominância do azul. As cores frias azul, verde, lilás, recuam, enquanto que as quentes amarelo, terra queimada se projetam no espaço criando a profundidade altamente dinâmica, constituída destas vibrações rítmicas do simultâneo avanço e recuo das cores. Além disso, há outra relação constituída pelas cores complementares amarelos, azuis violetados, verdes e terra avermelhada, criando uma tensão espacial reforçando ainda mais o efeito de avanço e recuo.

O rosto do animal, representado com realismo nos faz refletir que, a artista ao concebê-lo e representá-lo, dialoga com os princípios que caracterizam a pintura realista do século XIX. Representando o animal, de forma documental, sem que a sua pintura fosse reprodução fiel, exata, verdadeira fotografia da realidade, eliminou o que lhe pareceu supérfluo e inexpressivo, representou apenas os elementos considerados expressivos e definidores, ou seja o focinho os olhos e orelhas que são claramente visualizados na obra em análise.

[...]o artista deve representar a realidade com a mesma objetividade com que o cientista estuda um fenômeno da natureza. Ao artista não cabe ‘melhorar” artisticamente a natureza, pois a beleza está na realidade tal qual ela é. Sua função é apenas revelar os aspectos mais característicos e expressivos da realidade (PROENÇA, 2001, p.133).

O segundo plano deste quadro, remete a um ambiente noturno, neste aspecto, a artista acha que o resultado obtido é porque, “sempre pensa nos lobos como animais de hábitos noturnos”, como em sua arte o que é desenvolvido, é a exteriorização de seus sentimentos, o lobo é visualizado como em meio a escuridão da noite, onde se encontra protegido de seus predadores e a espreita de suas vítimas, pronto para a qualquer momento sair de seu esconderijo e entrar em ação.

A materialidade desta obra se revela em texturas táteis, e óticas. A textura tátil resulta da colagem realizada com papel antiácido e gel acrílico, em que é trabalhado o processo de adição alternado com o de subtração na aplicação das tintas. Já a textura ótica resulta do efeito de luz e sombra, o qual evidencia o volume, como também o efeito ilusionístico que dá aos pêlos do animal, levando o espectador a visualizar uma imagem de um verdadeiro lobo.

A artista trilhou os dois caminhos de semelhança e contraste, sendo que as semelhanças formais são percebidas como repetições rítmicas, de conteúdo mais lírico e contemplativo. Entretanto os contrastes desta obra indicam um conteúdo dramático, levado pela expressão de apreensão e aguçada observação no olhar do lobo. Articulando assim tensões espaciais, unindo dois aspectos fundamentais contidos no movimento:espaço e tempo. OSTROWER(1983,p.140) enfatiza que:”Em qualquer expressão, que formule conteúdos dramáticos ou líricos, é indispensável haver um mínimo de tensão espacial ( mesmo que se trate de imagens de pura fantasia), pois sem essa tensão a expressão se tornaria vazia. Não corresponderia a experiências reais da vida, faltando referências a impulsos e conflitos que existem em nosso agir. A tensão é essencial, ainda, para que se condensem os vários níveis expressivos da obra”.

Naza é uma artista que quando pinta, dá vazão às suas emoções de forma livre, intensa e verdadeira. Ao observar suas pinturas, tem-se a impressão de vê-las saírem da parede e puxar as pessoas para dentro, tem-se a sensação de a ouvirem gritar, cantar, ou acariciar. A análise formal deste quadro, nos permite identificar a imagem de um animal, que a pintora conseguiu por meio de sua sensibilidade artística, expressar magnificamente, trazendo-o à superfície da tela por meio da representação realística de tal forma que parece estar esperando o momento certo para saltar.

Figura 10- Lobo selvagem

Fonte: http//PT.wikipedia.org

De acordo com a artista, reproduzir em seus trabalhos animais selvagens, principalmente os que estão na lista de extinção, é uma maneira de contribuir para a preservação do meio ambiente, aumentando assim, a conscientização das pessoas sobre a situação de espécies em perigo de extinção. A vontade de retratar esta temática em seus trabalhos, foi despertada quando, ao assistir uma reportagem em uma rede de televisão americana (com data não lembrada),que exibia peixes-bois cortados por hélices de barcos de recreação, mostrando o descaso por parte dos homens para com a natureza.

O animal representado pela artista no trabalho em análise, é o Lobo selvagem( Fig.10) que, segundo pesquisa realizada via internet[11], é um mamífero selvagem considerado o ancestral do cão doméstico, “Foi um dos animais mais temidos e odiados pelo homem, e a caça e destruição do seu habitat o levaram a quase desaparecer em várias regiões em que antes era comum”, nos Estados Unidos, essa raça encontra-se quase extinta.

. A análise iconográfica nos permite identificar o tema do animal selvagem em perigo de extinção. Temática recorrente na arte realista, onde fixam as cenas da vida cotidiana e flagrantes populares, refletindo condições históricas e sociais.

4 A ARTE DE NAZA E O DIÁLOGO COM DIFERENTES TENDÊNCIAS ESTILÍSTICAS

Segundo Janson ( 1996, p.7),“A arte tem sido considerada um diálogo visual, pois expressa a imaginação de seu criador tão claramente como se ele estivesse falando conosco, embora o objeto em si seja mudo”. Para o observador a interpretação e a apreciaçãoda da obra de arte é tarefa gradual e infinita. É necessário conhecimentos básicos para que o observador possa trabalhar e formar opinião própria. O trabalho que Naza realiza, dependendo da forma como é analisada, possui características valiosas que travam diálogo ora com obras de artistas renomados no decorrer da história da arte, ora com tendências estilísticas de outras épocas.

O crítico de arte Paulo Fernando Craveiro, analisando o trabalho da artista, o caracterizou por dialogar com duas fases estilísticas distintas, a neoclássica em que Naza mostra talento e força, mas ingênua e de certa forma ainda em busca de uma linguagem própria, e o abstrato figurativo, em que a artista está em sua maturidade artística. A artista concorda plenamente, na sua opinião, a fase neoclássica seria a que compreende o início de sua jornada artística, e a segunda, que é a fase abstrata figurativa.

Cabe salientar que o neoclassicismo foi um movimento reinante na arte européia do final do século XVIII e início do século XIX. Tendo como grande expoente o pintor Jacques-Louis David. Os retratos que a artista pinta com tendências neoclássicistas, diferem das obras de David, por não situar a pessoa no tempo, nem espaço determinado,porém a maneira minuciosa e detalhada de desenhar, como também a pincelada lisa sem deixar vestígio do pincel remetem às características daquele movimento.

Elucidando que a arte figurativa consiste em representar a realidade externa, que serve de modelo para a criação do artista, quer se trate da natureza, figuras humanas ou objetos. Esta artista é figurativista pelo fato da figura humana e de animais serem temas recorrentes em suas obras, representados de forma realista e expressando estados emocionais. Também incursiona pelo abstracionismo quando pinta o fundo dos retratos recusando-se a representação ilusionista na natureza.

No início de sua carreira artística, as pinturas de Naza eram austeramente estruturadas e suas cores primárias e secundárias, acompanhavam a rigidez de suas abstrações.

Durante os anos em Washington, sentiu a necessidade de mudanças internas. Uma profunda sede de inovações fez com que rompesse com o que vinha produzindo artisticamente, começando então a utilizar-se de novas práticas estilísticas; Foi aí que partiu para as formas abstratas que em termos gerais, segundo Cavalcanti (19....,p.139), “o abstracionismo pode ser considerado uma pintura cujas formas e cores não possuem qualquer relação com as imagens ou aparências da realidade exterior”. Essa ruptura aconteceu em 1988 quando a própria artista revela que perdeu o medo do vermelho, em uma tela abstrata em que utiliza 90% desta cor, marcando assim, o início de uma nova fase. Foi dessa forma que a artista rompeu com as grades que prendiam-na ao convencionalismo, passando assim a ser mais livre em suas criações.

Através das pinceladas de Naza, podemos observar como seus temas são variados, embora sempre mantenha a integridade do seu estilo. Ela pode pintar qualquer assunto, de forma original e criativa sem cair na vulgaridade das imagens comerciais (COÊLHO, 1997, p.27).

Existem duas correntes da arte abstrata: a abstração geométrica e a lírica. Sendo que é nesta última que a artista se enquadra, pois vê-se em suas obras o percurso da emoção, o ritmo da cor e a expressão de impulsos individuais.

Naza busca inspiração no seu inconsciente e na intuição para a construção de suas obras. Em suas abstrações cheias de formas orgânicas, cores vibrantes e a presença de linhas de contorno dão a idéia de um simbolismo subjetivo.

Conclui-se, portanto, que se encontra presente nas telas de Nazareth a decomposição da figura, a simplificação da forma, os novos usos da cor e a rejeição dos jogos convencionais de luz e sombra. “Quando a significação de um quadro depende essencialmente da cor e da forma, ela passa a ser abstrata”, explica VALLIER (1980, p23).

A arte abstrata tem que ser entendida como fenômeno e não como mera tendência. Assim, a sua evolução, desde os anos sessenta, é a de um fenômeno em que, desde o início, se esboçam várias correntes, que depois se esbatem para ressurgirem a alguns anos de distância, mesmo já perto de nós, amplificadas, é certo, mas ambíguas. Podemos distinguir vários períodos no desenvolvimento da arte abstrata: o primeiro, entre 1910 e 1920, que é o período das origens, caracterizado por uma extraordinária vitalidade criadora. Depois, um segundo período, entre 1920 e 1930, em que assistimos à aplicação prática das formas abstratas – na arquitetura, no mobiliário e nas artes gráficas; é o fim da decoração 1900 e o aparecimento daquilo a que podemos chamar, com toda a propriedade, o estilo do século XX. Por volta de 1930, começa a expansão da arte abstrata: em toda a Europa, inúmeros artistas convertem-se à abstração. Mas, do ponto de vista estético, esta fase da arte abstrata constitui uma regressão. A forma abstrata esgota-se e depressa resvala para uma espécie de academismo. Em 1939, quando a guerra rebenta, a arte abstrata parece ter perdido toda a sua força criadora. Porém, logo a seguir a 1945, ganha novo alento. Desta feita, há que contar com os artistas americanos. Nos anos cinqüenta, a parte mais viva da arte, em todo o mundo, evolui sob o signo da abstração.

Quando interrogada sobre quais os artistas que a influenciaram e em que, a artista responde, -“não sofri nenhuma influência em termos de estilo, pois, sou autodidata, nunca quis ver o que ninguém estava produzindo, e também não fiz cópias de pinturas, não queria influências”; por este motivo a artista não levou adiante o estudo sobre arte. Segundo Nunes (2003), por maior que seja a diferença quanto a matéria e à expressão, as obras de arte obedecem a categorias visuais comuns, sejam elas: predominância das linhas, representação por planos, nitidez dos contornos, etc.,são elementos que informam um tipo de visão artística, estruturante que corresponde a determinada categoria estilística. É com base nestes critérios que será feita uma contextualização do estilo pictórico de Naza através da história da arte, pois existem elementos estilísticos em seu trabalho que dialogam com obras de certos artistas e estilos de diferentes épocas.

Muitas pessoas ao observar seus quadros, percebem semelhanças formais com o pintor surrealista Salvador Dalli, porém Naza diz que não. Mas estas observações, feitas muitas vezes por leigos, que de uma forma ou de outra, não possuem conhecimentos mais específico sobre o assunto, tem um certo grau de acerto. Não referente ao tema e à técnica, mas sim na maneira estilística de representação.

Cabe explicar que o surrealismo foi um estilo que começou como um movimento literário promovido por André Breton, poeta ensaísta e crítico francês e floresceu na Europa e nos Estados Unidos nos anos de 1920 e 1930, nascidos da livre associação e das análises freudianas. Os poetas, e mais tarde os pintores, faziam experiências com o automatismo – uma maneira de criar sem o controle do consciente para despertar o imaginário inconsciente.

No decorrer dos anos, com o seu amadurecimento, suas construções abstratas foram se tornando mais soltas, livres e imaginativas. Hoje sua expressão artística atinge um patamar lírico[12]. Com o amadurecimento do ser humano, Ostrower (1987, p. 130) explica:

[...] a criatividade se realiza em conjunto com a realização da personalidade de um ser: da maturação como processo essencial para a criação. [...] Com sua maturidade o ser humano criará espontaneamente, exercerá a criatividade como função global e expressiva da vida, e como medida de sua gratificação.

A maioria dos temas desenvolvidos pela artista em questão, identifica-se ao de Gustave Coubert[13], segundo Strickland(2003, p.84) ele só pintava temas que representasseM coisas existentes que ele pudesse ver e tocar, ele dizia que “a pintura é essencialmente uma arte concreta e tem de ser aplicada as coisas reais e existentes”. Naza trabalha essencialmente com formas figurativas, representadas por um ser existente que ela já viu ou tocou: retratos de pessoas e animais, às vezes, abstraindo apenas o fundo da composição.



[1] Ex-líder militar panamenho e governante de facto do país entre 1983 e 1989.

[2] Profisão que tem como atribuição escoar a produção artística, comprando, vendendo e fazendo intermediação de obras de arte, promovendo os artistas plásticos e assessorando os compradores em potencial.

[3] Especialista em design.

[4] Expressar o que nunca foi expresso, criar, o que nunca foi criado, tornar real o que nunca foi realizado.

[5] Realizada em março de 2008.

[6] Filhotes

[7]Palavra de origem alemão, que significa motivo condutor ou motivo de ligação.

[8] Óleo extraído de sementes maduras da planta do linho, tem sido empregado desde a época medieval como veículo(substância que se mistura ao pigmento para compor a tinta)e como verniz ou vitrificador.

[9] Solvente utilizado para diluir a tinta.

[10] Relativo a povo, racial.

[11] WIKIPÉDIA. Disponível em:< http://pt.wikipédia.org/wiki/lobo>. Acesso em: 12 fev.2009.

[12] Que canta os sentimentos do próprio poeta sentimental.

[13] Pintor do Realismo francês, pai do movimento realista( 1819 – 1877). Desafiou o gosto convencional por pinturas históricas e temas poéticos.

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